Gisele Martins

Formada em Economia, começou a fotografar no final dos anos 90. Em 2005 fez sua primeira exposição individual “Olha que Eu Vim Lá de Longe, na Pinacoteca de São Paulo, com curadoria de Diógenes Moura. A série retratou a religiosidade afro-brasileira no bairro paulistano do Bexiga e ganhou o Prêmio Leica-Fotografe em 2006. Participou de mostras coletivas no Brasil e na França, dentre as quais “Povos de São Paulo – Uma Centena de Olhares Sobre a Cidade Antropofágica”. Foi finalista do PhotoEspaña em 2015 com o ensaio “À Margem”, exibido na Galeria FASS (atual Utópica) no mesmo ano e publicado em livro em 2018. Nesse ano, a fotógrafa obteve o primeiro lugar na categoria foto única e menção honrosa com o ensaio “À Margem” no Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco. No mesmo festival, em 2020, o ensaio “Interiores” obteve a segunda colocação. Posteriormente, em 2021, o ensaio “Interiores” foi publicado como fotolivro da Coleção Photothings, pela Porto de Cultura. Participou da exposição “Presença” em São Paulo e Mongaguá, um recorte de trabalhos de mulheres fotógrafas ao longo das últimas décadas, com curadoria de Mônica Maia. Faz parte da rede “Mulheres Luz”, que reúne conteúdos produzidos por fotógrafas e mulheres da imagem no Brasil. Possui fotos no acervo da Pinacoteca de São Paulo e na Bibliothèque nationale de France.


Marcela Bonfim

Sabemos de fato quem somos? Quantas vezes nos olhamos no espelho e identificamos ali nossos traços ancestrais? Algumas pessoas criam uma imagem que não as representam, mas que são aceitas pela sociedade ou por vezes preferem, simplesmente, quebrar o espelho e não se encarar. Muitas vezes esse espelho foi quebrado pela fotógrafa Marcela Bonfim, paulistana da cidade de Jaú, 38 anos, hoje reconhecida como mulher negra e moradora na cidade de Porto Velho, em Rondônia há 11 anos.

Formada em economia pela PUC-SP a militante pela causa das populações negras e povos tradicionais era outra Marcela até os 25 anos. Ela se considerava uma negra embranquecida, acreditava no discurso da meritocracia. Ouvia dos pais que se estudasse conseguiria ter um bom emprego e ser feliz. Também baseado nesse discurso criticava as políticas de ações afirmativas, como as cotas raciais, e dizia que eram mais uma demonstração de preconceito e racismo, palavra essa que não enxergava dentro da sua realidade.

Marcela vestia por cima da pele alguns disfarces para ser aceita. Na turma do colégio recebeu o título de a mais engraçada, era a palhaça da sala de aula, a mais risonha, e assim a economista levou a vida. Acreditou em um mundo possível, com portas abertas e livre circulação, sem nenhum impedimento. Mas ela se enganou e foi durante a busca pelo primeiro emprego que o mundo dela ruiu e os disfarces não funcionavam mais, a cor da sua pele agora estava amostra.

Já em Rondônia, para enfrentar sua negritude, Marcela comprou uma máquina fotográfica, em 2012, e começou a fotografar homens, mulheres, crianças, jovens e velhos negros e negras na Amazônia em comunidades quilombolas, rituais de terreiros de candomblé, festejos religiosos, penitenciárias. O registro também buscou retratar o negro em seu emprego, na grande maioria exercido em atividades domésticas.

As lentes também captaram a resistência pela preservação da cultura e costumes e a beleza da estética negra. A fotografia foi um resgate da própria identidade de Marcela enquanto mulher negra e foi na Amazônia que ela “enfrentou” a cor de sua pele.

Lilian Campelo

Brasil de Fato | Belém (PA) | 18 de outubro de 2016