por Dani Sandrini

O ensaio “terra terreno território” propõe uma reflexão sobre como é ser indígena numa metrópole em pleno século XXI. As imagens documentais foram captadas digitalmente na cidade de São Paulo, que abriga 53 etnias espalhadas em diversos bairros – tanto em aldeias quanto em contexto urbano, sendo o quarto município do Brasil em números de população indígena (Censo 2010 / Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). 

A partir da captação, todo um processo artesanal e quase ritualístico se dá na impressão das imagens, utilizando a luz solar e a própria folha de planta como suporte, dialogando com a ligação sempre próxima dos indígenas com a terra, com a mata e com os ciclos da natureza, além de sua ligação com os fazeres manuais, tão importantes nessas comunidades. 

Como a natureza – onde tudo se transforma –, esse processo produz imagens impermanentes que sofrem interferências com a passagem do tempo. Do mesmo modo que a cultura indígena está em permanente transformação (e não congelada no tempo de 500 anos atrás), as imagens também se transformam. A folha, com o passar do tempo, produz fendas, seca, se contorce, criando elementos vivos que dialogam com a imagem impressa – podendo chegar até ao apagamento, dependendo das condições de luz. A referência se estende também ao apagamento histórico que a cultura indígena sofre ao longo dos anos.  
O ensaio favorece a discussão acerca da fotografia e de seu caráter de memória e documento como algo imutável, ampliando seus contornos e podendo se vincular ao documental de forma bem mais subjetiva.

Dani Sandrini